RESENHA: Casta: As origens de nosso mal-estar - Isabel Wilkerson
Isabel Wilkerson, vencedora do Prêmio Pulitzer, jornalista e escritora de não ficção traz no livro Casta: As origens de nosso mal-estar o quão complexo é a questão do racismo estrutural. Isabel usa o termo CASTA para explicar a profundidade das opressões sofridas pelos negros nos Estados Unidos trilhando trajetórias paralelas com o sistema de castas indiano e o nazismo na Alemanha.
A autora consegue dar novos conceitos a termos já conhecidos ao apontar as semelhanças entre esses três sistemas de castas, que brilhantemente classifica com uma construção artificial humana de forma a estabelecer a supremacia de um grupo em relação a inferioridade de outros a partir de traços impossíveis de serem alterados com o intuito de favorecer aos pertencentes da classe dominante.
Para o sistema de castas indiano, a segregação é hereditária e é definida pelos sobrenomes. Relacionado ao hinduísmo acreditam que Brahma, uma divindade, é dividida em partes do corpo (que são as castas): a primeira, os brâmanes (viria da cabeça – sacerdotes e letrados), a segunda os xátrias (viria dos braços – guerreiros), a terceira os vaixás ( das pernas – comerciantes) e a quarta os sudras (dos pés – camponeses e operários). Mas são os dalits, ou intocáveis que são os mais discriminados no sistema de castas, carregam a profissão dos antepassados (limpar latrinas e cinzas nos crematórios) devem se mostrar extremamente submissos e servis.
Já para o sistema americano a definição vem da raça ou características físicas, ou seja, traços físicos receberam um significado e resumem tudo o que a pessoa é referindo-se a negros, indígenas, latinas, asiáticas etc. Por fim na Alemanha nazista todos os judeus e não arianos foram brutalmente desumanizados.
Um ponto interessante é a bagagem jornalística incluída já que houve um vasto estudo e aprofundamento nos países analisados para sustentar a argumentação, e apesar de ser um livro de não ficção a autora consegue dar um aspecto literário a obra com episódios vividos pela mesma ou por personagens reais que tornam a leitura de fácil entendimento.
Grande parte do livro é norteada por 8 pilares que a autora identificou que são comuns aos três sistemas de castas:
1. Vontade divina – crença numa pirâmide humana segundo a vontade de Deus e leis da natureza
2. Hereditariedade – a distinção negro/branco é determinada no nascimento e é imutável durante toda a vida
3. Endogamia – determinação da reprodução dentro dos grupos a fim de manter a segregação das castas
4. Pureza x Conspurcação – pureza da classe dominante comparada as classes inferiores como sujas
5. Hierarquia ocupacional – A casta superior tinha propriedade total das classes inferiores
6. Desumanização
7. Terror como imposição – utilização de violência para impedir formas de resistência
8. Superioridade intrínseca x inferioridade intrínseca
Esse livro é de uma grandiosidade jornalística e complementar a todos os estudos sobre racismo estrutural que tenho acompanhado. Traz de maneira profunda reflexões necessárias, dentre elas destaco a comparação de como a sociedade americana trata a questão do racismo estrutural com valorização dos algozes, homenagens supremacistas com estátuas ou pedestais e desumanização dos afetados ao passo que a Alemanha alguns nazistas que não se suicidaram foram capturados e submetidos a julgamentos.
Apesar do livro tratar da questão do racismo nos Estados Unidos é possível trazer muitas reflexões para a realidade brasileira, portanto este livro é de leitura necessária.
Isabel Wilkerson - Imagem de divulgação |
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