QUE LIVRO!!!!

Em "Sobre Minha Filha", a autora contemporânea sul-coreana Kim Hye-Jin, traz uma narrativa que explora as complexas relações familiares, abordando também questões de identidade, autoconhecimento, envelhecimento e preconceito. Importante salientar que estamos falando de um país bastante conservador, especialmente quando se trata de questões de homossexualidade e direitos LGBTQIA+.

A história é narrada pela mãe, e o curioso do livro é que, embora o título diga "Sobre Minha Filha", a narrativa é muito mais sobre essa mãe, suas angústias, questionamentos e sofrimentos. Ela é uma idosa que trabalha como cuidadora de outros idosos, trazendo à tona a questão do envelhecimento como uma experiência solitária e frágil.

Há uma falta significativa de comunicação entre a mãe e a filha, um verdadeiro abismo emocional entre elas. A mãe constantemente condena e questiona por que a filha não tem uma "família normal". Por outro lado, considerando o contexto social conservador da Coreia do Sul, a filha se mostra incrivelmente corajosa ao enfrentar tanto a mãe quanto a sociedade, simplesmente por ser quem ela é.

Essa tensão entre mãe e filha reflete um conflito entre as expectativas tradicionais e a busca pela autenticidade e autoaceitação. A mãe representa uma geração que valoriza a conformidade e as normas sociais, enquanto a filha simboliza a luta por liberdade e identidade em um ambiente que muitas vezes é hostil a essa expressão. A coragem da filha em manter sua identidade diante de tais pressões sociais destaca a complexidade e o custo emocional de ser fiel a si mesma em uma sociedade que ainda luta para aceitar a diversidade. A narrativa, assim, explora a dificuldade de equilibrar amor familiar com a necessidade de autoaceitação e o direito de viver autenticamente.

Além das questões já mencionadas, também exploramos as experiências dessa mãe que trabalha como cuidadora de idosos. Vemos como pessoas que, no auge de suas carreiras, contribuíram significativamente para a sociedade acabam sendo abandonadas e esquecidas ao chegarem à velhice, tornando-se apenas um número em casas de apoio. A obra destaca como nossa sociedade não está preparada para cuidar dessas pessoas com humanidade e respeito. Além disso, revela a falta de preparação tanto social quanto individual para o envelhecimento, que muitas vezes é acompanhado de isolamento e vulnerabilidade. A narrativa evidencia a necessidade urgente de repensar a maneira como tratamos nossos idosos e a importância de criar sistemas de apoio que respeitem sua dignidade e contribuam para seu bem-estar.

Dessa forma, "Sobre Minha Filha" não só discute a homofobia e o preconceito, mas também desafia os leitores a refletirem sobre o tratamento dos idosos em nossa sociedade, revelando as camadas de solidão e negligência que muitos enfrentam na terceira idade.