13/193 – DESAFIO LEITURAS PELO MUNDO – ESTADOS UNIDOS


Pheby – Sadeqa Johnson

Sadeqa Johnson brilhantemente nos dá uma sacudida através da história de Pheby e joga na mesa temas necessários para discussão como racismo, escravidão e colorismo.

Na trajetória do livro a autora consegue nos envolver na história, nos conectar com os personagens e claramente apresentar um resultado de bastante pesquisa sobre o período de escravização dos negros nos Estados Unidos de 1850 até a Guerra entre os Estados do Norte e do Sul (Guerra de Secessão) e o “fim” da escravidão na América, tudo isso com bastante suspense.

Pheby é uma jovem menina que nasceu do estupro de sua mãe, escrava, pelo Senhor da plantação. Rodeada de mulheres fortes que apesar de viverem em situação de escravidão a ensinam sobre ter a liberdade na sua cabeça, Pheby cresce aprendendo a tocar piano e a ler/escrever com a irmã do Senhor (sua tia) apesar da proibição severa de que escravos aprendam a ler e escrever naquele período.

A vida inteira Pheby foi prometida uma liberdade aos 18 anos pelo Senhor da fazenda, porém isso não acontece. Uma reviravolta já acontece aí e as cenas fortes apenas se intensificarão!

Ela é vendida para uma prisão de escravos na Virginia, porém é resgatada por Rubin Lapier, o dono da prisão conhecida como Terra do Diabo e que era símbolo de brutalidade e violência com os escravos que por ali passavam, onde também muitos não sobreviviam.

Como Pheby tinha a pele um pouco mais clara acabou sendo escolhida pelo Rubin para ser sua “dama” e passou a ser a Senhora da Prisão. Apesar de ainda ser uma posse de Lapier, Pheby teve algumas “regalias” que os demais escravos não tinham, principalmente depois de ter tido 4 filhas dele. Todas nasceram brancas.

Ao longo das páginas vamos nos apegando a Pheby e os demais a sua volta, e a suas lutas diárias por sobrevivência. Tudo isso conhecendo mais sobre o processo de escravidão, principalmente na questão do colorismo, que é o termo utilizado para diferenciar várias tonalidades da pele negra, do mais claro ao tom mais escuro. As diferenças no tom da pele negra impactam diretamente na intensidade do racismo, oportunidades e exclusão social desde aquela época até os dias atuais. Dessa forma a autora aborda essa segregação na vivência dos personagens e, ao ponto que as histórias vão divergindo como consequência vamos percebendo quão distinto é o grupo de mulheres negras que muitas vezes são vistas como um grupo homogêneo.

Não tem como não ser envolvido na história e não sentir o peso do que foi esse período. Resumo: o livro é tão bom que é ruim.

É bom porque é bem escrito, bem construído, pesquisado, rico em detalhes e envolvente e ruim porque são muitos gatilhos de violência, descrições brutais das torturas que eram praticadas, enfim chuva de realidade, mas uma realidade muito cruel e difícil de digerir.

É um livro pra ler num folego só e eu reforço a necessidade da leitura.

Já entrou para um dos melhores de 2022 com certeza.

Já faz mais de um ano que faço parte do clubeTag Livros e esse foi uma das experiencias mais completas, digo isso porque na revista complementar descobrimos a inspiração/referência para autora escrever o livro na história de Mary Lumpkin. E que história!

Agora sigo com uma leve ressaca literária 😊

Título Original: Yellow wife
Editora: Dublinense
Páginas: 300
Ano: 2022

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