Numa era em que os algoritmos são projetados para que as pessoas cliquem e passem mais tempo engajadas com o conteúdo nas redes sociais, ou em tempos em que só vivemos o que foi postado e as pessoas sentem a necessidade de likes e “corações” de muita gente para se aceitarem, Samanta Schweblin nos apresenta uma distopia que de inicio parece fora da realidade mas que em poucas páginas me pareceu muito real.

Na narrativa, os kentukis são aparelhos eletrônicos “fantasiados” de pequenos bichos para dar a ideia de bichinhos de estimação que necessitam de atenção e cuidado de pessoas que gostam/necessitam de exposição pública, pois o controle dos bichinhos é feito por pessoas anônimas.

Esse vínculo criado entre o observador (por trás) dos kentukis e do expositor (pessoa que adquire o bichinho e passa a cuidar e ser observado por ele) apesar de ser rudimentar é tratado no livro com diferentes viésis e pontos de vista.

O vínculo é único, ou seja cada Kentuki tem um amo, dessa forma é preciso cultivar esse relacionamento para que não se desfaça.

É impossível não fazer um paralelo com o que vivemos com as redes sociais, ou até com os próprios celulares, quantas vezes você falou sobre algum produto e de repente começa a aparecer infinitas propagandas nas redes sociais?

Quando andamos pelas ruas somos “registrados” em câmeras de segurança que nem sabemos a quantidade....Enfim, fala-se muito de internet das coisas, mas hoje estamos cada vez mais conectados que as próprias “coisas”.

Sem mencionar a felicidade atrelada ao relacionamento digital, nos tornamos cada vez mais dependentes das redes para interagir e conhecer pessoas, e como consequência temos menos interações interpessoais e uma sociedade que vive em bolhas, ansiosa, com auto estima baixa e depressão. ( Não vou nem mencionar fake News por aqui!)

Claro que há vantagens no uso das tecnologias, mas nesse momento as reflexões são a respeito das consequências. Uma distopia com misto de realidade: Ser ou ter?