27 de ago. de 2023

17/193 – DESAFIO LEITURAS PELO MUNDO – PORTUGAL


            AS INTERMITÊNCIAS DA MORTE                               José Saramago


José Saramago foi um renomado escritor português, o primeiro de língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura em 1998 e conhecido por um estilo literário peculiar com ausência de marcações de diálogo e pouca pontuação. No início é um pouco confuso para o leitor que não está habituado, mas com o passar das páginas a sensação é de imersão no pensamento dos personagens, o que oferece uma experiência de leitura única.

Seu livro mais famoso é "Ensaio sobre a Cegueira", publicado em 1995, uma narrativa que explora uma epidemia de cegueira branca que atinge uma cidade, desencadeando caos social e humano. Através dessa premissa, Saramago examina a natureza da humanidade, a moralidade e a sociedade.

Porém, para o desafio eu busquei um livro que a sinopse conseguisse me deixar curiosa e ansiosa para conhecer a história. Por essa razão, As intermitências da morte é o livro escolhido para representar Portugal no desafio!

“No dia seguinte ninguém morreu”: Com esta frase o livro se inicia para declarar um fato que acontece num país não determinado, as pessoas simplesmente param de morrer. De início causa um frenesi geral, depois passar a ter severos impactos na sociedade, como: hospitais com excesso de doentes e que vai ficando com poucos leitos, funerárias sem uso e entram em crise, seguradoras de vida que deixam de fazer sentido, religião, política, economia e mais. É muito interessante a análise crítica que ele faz e como essa mudança vai desencadear uma série de eventos e reflexões sobre a vida, a morte, a sociedade e a condição humana.

Na trajetória do livro Saramago aborda questões complexas, como a natureza do envelhecimento, a importância da mortalidade na valorização da vida e os dilemas éticos que surgem quando a morte não é mais uma certeza.

Falando em morte, ela também se torna um personagem do livro. Ao perceber que deixar de acontecer gera um caos social ela começa a enviar cartas para as pessoas informando o dia em que elas deveriam morrer. Essas cartas são escritas em um papel violeta e detalham a data e hora exatas da morte de cada pessoa e são enviadas com uma semana de antecedência.

Nesse aspecto é interessante observar as diferentes reações a partir da recepção da carta pelas pessoas. Algumas tentam evitar sua morte e buscar maneiras de sobreviver a todo custo, enquanto outras aceitam tranquilamente ou apenas se desesperam com a notícia. Essas reações exemplificam perfeitamente que temos uma relação muito complexa com a morte. Outro fator que eu incluiria aqui é o peso que a igreja tem nessa relação do ser humano com a morte, fato que o livro se mostra bastante crítico também.

Outro personagem importante na história, é o violoncelista, um músico que recebe uma carta em papel violeta, mas que enfrenta a mortalidade de maneira única e poética. Nesse contexto, para conseguir entregar a carta ao músico a morte se vê obrigada a tomar a forma de uma mulher e começa a se relacionar com os mortais. Ela entra na vida do artista, na sua música, sua rotina e na sua arte.

A meu ver, a morte se envolve emocionalmente com o violoncelista a ponto de não conseguir entregá-lo a carta. O desencadear do final é excepcional, o autor usa essa premissa incomum para explorar as características da sociedade contemporânea e questionar as noções que temos sobre a vida e a morte. Ele mistura elementos de realismo e fantasia para criar uma narrativa que é ao mesmo tempo intrigante e reflexiva.

Título Original:As intermitências da Morte
Editora:As intermitências da Morte
Páginas: 362
Ano: 208

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